sábado, 7 de março de 2015

Vai "intender..."


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Interessante esse jeito de falar que a gente adota e nem se importa se alguém vai notar. Acordei cedo pra procurar emprego, mas quando estava tomando café liguei a TV pra saber o que estava acontecendo no país, se o trânsito na Avenida Brasil estava lento e enquanto passeava de canal em canal, resolvi ouvir o que o presidente da república (na época) estava falando naquele programa. 

Logo me interessei sobre o assunto. Dizia o presidente que a taxa de desemprego estava caindo, pois havia “imprego” em várias áreas. Caí na gargalhada!
- Tá brincando? Falei com os botões do controle remoto. E os disparates não pararam por aí. 

A jovem que entrevistava declarou no seu microfone:
- Nessa “intrevista” queria que o senhor falasse sobre o que o governo está fazendo para ajudar os jovens... blá-blá-blá pra lá, blá-blá-blá pra cá tive que sair de casa.

Já na rua, com fome, resolvi comer um cachorro quente.
- Compreto tia? Perguntou o rapaz da carrocinha.
- Compreto! Respondi. E eu ia lá criar uma discussão por causa de um “L”? De jeito nenhum! Até aí tudo bem, quem nunca trocou as letras ou atropelou uma regra de Português? Se tivesse que me aborrecer seria pelo "tia".

Cheguei ao local indicado e enfrentei aquela fila de pessoas que também aguardavam a vez. Sol quente, dor de cabeça, troca de sorrisos, alguns dos candidatos pareciam assustados, outros nervosos a ponto de deixar tudo o que estava nas mãos cair no chão, alguém no telefone dizendo que já era a décima entrevista naquela semana...

Olhei atentamente e me vi cercada de pessoas bem mais jovens que eu. Todo mundo com o mesmo estilo de roupa, alguns sem qualquer tipo de preocupação como se dissessem: Se não der certo, tudo bem... Amanhã é outro dia... Pensei: O que eu estou fazendo aqui?

Na hora de entrar aquela muvuca, fila de elevador, salinha apertada, mais tempo de espera como se o tempo não fosse importante. Na verdade reparei que o emprego mais promissor era aquele de “eu sou o intrevistador” como nos comunicou a pessoa com a prancheta (hoje eles usam um Tablet) na mão. Pensei: Jura? 

A primeira fala: As digníssimas Boas vindas com direito a travessão. Depois veio a exposição do trabalho, qualificações e tempo de serviço exigido, nesse não pedia experiência, blá-blá-blá aos montes e por fim a remuneração...  Que vergonha! 

Reparei que a cada explicação, um grupinho de dois ou três se levantava e saia do local. Não era bem aquilo que eles estavam querendo! Olhei para os lados e pensei: a concorrência diminuiu. 

Alguém ao meu lado falou baixinho: Isso é muito "isquisito"! Concordo!

Outro período de espera e finalmente chega um funcionário trazendo as provas seletivas. Logo de início uma redação, 15 linhas com a seguinte informação: sem erros ortográficos, sem rasuras. Título: Quem é você? Juro que eu fiquei um tempo pensando, pensando, no que iria escrever! Olhei para os lados e parecia que todo mundo tinha o mesmo problema, como falar de si mesmo para alguém que vai pagar o seu salário?

Resumo: Dor nas costas, cadeira dura, estressada com toda aquela “burocracia necessária” (?) Então escrevi algumas linhas e entreguei as provas.  No início da página tinha uma linha para se colocar o nome e a idade do candidato (parte chata e era aí que a coisa pegava, porque já tinha passado dos quarenta).

Mais tempo de espera e finalmente uma terceira pessoa chegou e anunciou os nomes de quem continuaria no processo seletivo. Àqueles que não fossem citados deveriam sair com um sorriso e uma declaração de: - Boa Sorte da próxima vez! – Voz mais chata! Novidade! Peguei minha bolsa linda, sorri e fui embora!

Chocada! Não! De jeito nenhum!  

Centro da cidade, gente andando de um lado para outro, cada um com seu “mundinho” e eu lá, no salto, andando em plena Rio Branco como se nada, absolutamente nada me atingisse. Até que... Cansada de tantos  “nãos” decidi parar de correr atrás de emprego, entrevistas que não me levariam a lugar algum e sinceramente: Odeio perder tempo!

Você deve estar pensando: Desiste não! Lute! Você vai vencer! Conquiste seu lugar ao sol! A vida é assim mesmo! Não desista dos teus sonhos! Isso parece até letra de uma música...

Eu respondo:  Vai "intender" o mundo que nos cerca.
 

Marion Vaz 


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