O
contexto social em que Jesus aparece na vida de uma mulher era este: Judeus e
samaritanos não se comunicavam, não se confraternizavam, não usavam os mesmos
utensílios para comer ou até mesmo para beber água por causa da lei da
purificação que o povo de Samaria não observava. Mas Jesus rompe as barreiras
imposta pela sociedade pedindo um pouco de água para aliviar o calor do dia. A
atitude dele a surpreende: Como sendo tu judeu falas comigo que sou mulher
samaritana?
Eu
fico pensando: Quem em sã consciência negaria água para outra pessoa? Ela, que
nunca tinha ouvido falar sobre o Mestre, seus milagres, sua compaixão, não
tinha qualquer expectativa de melhorar a convivência entre os dois povos a
partir de um diálogo. Mas a cada indagação da mulher uma revelação surgia. E de
um completo estranho Jesus passou a ser a fonte da água viva, um profeta e o
Messias. A verdadeira adoração a Deus passaria de uma visão local para um
padrão universal.
Mas
queremos nos deter a vida diária da samaritana. Ela que já estava no sexto
relacionamento, não era bem vista pela sociedade e provavelmente, era só mais
uma das muitas que viviam na cidade. As idas e vindas ao poço era um trabalho
cansativo, mas não havia outro lugar no qual pudesse obter aquele líquido tão
precioso. O horário também não era um dos melhores, mas o que se podia fazer?
Com seu cântaro nas mãos a samaritana caminhava todos os dias para pegar água
no poço, levando também nos ombros uma carga pesada, uma ferida aberta,
humilhação e vergonha...
Os
diversos envolvimentos amorosos devem ter deixado marcas em sua vida e como
estava o seu coração diante de Deus com todas aquelas culpas lhe assombrando?
Talvez, o trajeto até o poço fosse o único momento de solidão e reflexão que
apreciasse. Quem sabe, mesmo sentindo a areia quente sob os pés, olhando as
montanhas ao longe, o céu tão azul, a samaritana pensasse que Deus a amasse
apesar das suas imperfeições?
E
foi naquele dia que aconteceu algo diferente. Enquanto a mulher caminhava
devagar até o poço, vê a figura de um homem sentado numa pedra. Ela não tem a
intenção de olhar para ele. E enquanto procura um jeito de tirar a água
armazenada, reconhece a roupa, a fisionomia de Jesus como um típico morador da
Judeia. A mulher sabe o seu lugar e permanece calada até que não pôde mais
ficar indiferente àquele homem que pedia água.
O
cântaro nosso de cada dia parece
perfeito. Ele é indispensável, é companheiro. Um recipiente para qualquer tipo
de “líquido”, em que as nossas emoções se transformem. É nele que guardamos
nossas mágoas e ressentimentos. E como ele é pesado! Porque com as idas e
vindas à estrada da vida também colecionamos histórias, fantasias, sonhos,
tristezas, decepções, desilusões. O cântaro se transformou naquele
vínculo com o passado que por alguma razão, não queremos esquecer.
E
não é o que acontece conosco? Estamos tão submersos nos problemas que olhamos
para Jesus, reconhecemos o seu poder, mas ficamos perplexos por ele está ali,
pronto para nos abençoar. E nos silenciamos. Mesmo sabendo que Ele é fiel e
justo. E assim ocultamos nossas dores, nossas indagações, por medo,
insegurança, desconforto. Ou às vezes, porque é mais cômodo continuar a tirar
água do poço como estamos acostumados, do que se aventurar em buscar água em
uma Fonte.
Porque
nem sempre é fácil reconhecer que erramos e que negligenciamos algo importante
ou que estamos sofrendo a consequência de nossos próprios atos. É sempre mais
fácil colocar a culpa em alguém do que aceitar que precisamos mudar de atitude.
Mas
a fonte também estava ali bem diante da mulher samaritana. Ela podia sentir o
calor do sol, mas também um refrigério na alma. Talvez a mulher estivesse
abraçada ao cântaro, seu único amigo até aquele momento.
E
Jesus questiona a mulher, confronta e restabelece limites. Ele amplia a visão
espiritual da samaritana. A conversa continua até que de repente, a mulher sai
correndo em direção à cidade. Jesus olha para o chão e lá está o tal cântaro,
abandonado, como se não tivesse mais nenhum valor.
Marion
Vaz
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