Já faz um tempo que
tenho reparado como a vida pode ser monótona, principalmente quando repetimos
as mesmas atividades todos os dias. Não é que isso seja de todo ruim, porque
dependendo do que se faz ou se trabalha, não temos outra opção. O relógio desperta
sempre naquele horário. Você levanta lentamente, se arruma, toma café ou não e
sai naquele exato minuto já programado. Qualquer distração pode te atrasar e te
fazer apressar o ritmo dos passos.
Na rua, ainda está
escuro e as luzes dos postes estão acesas. Os mesmos rostos atravessam o
caminho e aquele senhor parece estar sempre ali parado esperando o seu “bom
dia”. Você atravessa a rua e apressa os passos porque já sabe até o horário
das conduções e quem está esperando por elas. Aquele senhor idoso precisa
de ajuda para dar sinal e não perder o ônibus. O moço no celular parece que
está olhando o Google Maps. O céu fica mais claro e as luzes se apagam e a dúvida é cruel: Será que o ônibus passou mais cedo?
Os três rapazes de
casaco azul e com capuz andam em fila indiana do outro lado da rua como se
estivessem num comercial da Vivo (Hoje senti falta deles e fiquei preocupada).
O homem que espera a condução especial que vai leva-lo ao trabalho fica sempre
no mesmo local afastado do ponto. O senhorzinho de corpo magrinho e tênis nos
pés está fazendo sua caminhada matinal. A jovem senhora com mochila nas costas
vai andando até o próximo cruzamento, porque o ônibus dela só passa por lá. A
senhora loura chega ofegante e vem andando rápido, porque ela sempre espera
clarear o dia pra sair de casa porque tem medo de sair no escuro. E você
percebe que já sabe todas as histórias.
O motorista te vê de
longe e diminui a velocidade do ônibus e o seu “bom dia” é correspondido. Lá
dentro mais rostos que você vê todo dia e nem sabe o nome de ninguém. A moça
com neném no colo desce sempre em frente à estação. Mais três pessoas descem em frente ao Correio. Uma curva aqui, outra ali e
de olhos fechados já sabe todo trajeto. A senhorinha com seus setenta anos e
com um grande sorriso no rosto se diverte com a conversa fiada do motorista.
Parecem amigos de longa data, só que não!”
Um a um os passageiros
vão descendo. E um deles sempre chama o motorista pelo nome. Finalmente, você
presta atenção e ele deixa de ser um estranho. Agora o condutor tem um nome:
Gonzaga. No ponto final descem os últimos e você atravessa a rua e segue em
frente já com a chave do portão nas mãos. Entra, verifica se tem cartas no
portal e começa o expediente.
As mesmas atividades do
dia anterior com pequenas diferenças ou agravantes, mas que vão ocupar seu
tempo a manhã inteira. Você se irrita, diz que no outro dia vai agir diferente, mas
nem percebe que está repetindo as coisas como se fossem importantes, quando na
verdade, são apenas atividades rotineiras que possivelmente, nem sequer serão notadas.
Marion Vaz