domingo, 18 de outubro de 2020

Feridas que moldam

Nem sempre é fácil lidar com a dor. E dor é algo que não se pode fugir. Quando menos a gente espera lá está ela, ardendo como fogo, broqueando nossa autoconfiança. E às vezes, não tem jeito de fugir daquilo que nos faz mal, nos limita ou quer nos destruir pedacinho por pedacinho. Experimentei isso hoje. 

E a pessoa que faz isso é sempre a mesma, aquela que me colocou no mundo. E eu sofro esse tipo de bullying desde sempre. É olhar pra mim e ver algo que desagrada. Mesmo que não haja nada de errado a pessoa começa com suas críticas e pode ser o cabelo, a roupa, a maneira de falar, o jeito de andar, a casa em ordem, o filme na TV, enfim... Tudo aquilo que faz de mim o que eu sou de verdade é alvo de críticas e reclamações. E não adianta mudar algumas atitudes, a maneira de pensar, minhas resoluções diárias... Nada agrada. 

E você pode estar pensando que estou exagerando ou que já passou por isso também ou ainda vivencia as mesmas coisas. Enfim. Hoje me deixei ferir. É a vida. Às vezes, se consegue gerenciar a afronta. Ela bate na nossa "rede de proteção" e não nos traz qualquer desiquilíbrio emocional. Às vezes não. A afronta nos encontra vulnerável e penetra no coração. E quem sabe até na divisão da alma com o espírito... E dói. 

Porque mesmo que a gente finja que está tudo bem, que já aconteceu outras vezes e a gente superou, que da próxima vamos estar mais forte... Dói! É preciso chorar mesmo! Porque dói como um soco no peito e a lembrança é como se fosse um boxeador, que continua a nos ferir, sem descanso, sem pausa, sem juiz num ringue. 

E se eu pensar num passado próximo vou ter a nítida impressão que as feridas de tantas e tantas outras afrontas ainda estão lá, talvez abertas, e sangrando. Porque as vezes, parece difícil aceitar que não somos importantes ou amadas. Pois a qualquer momento, a pessoa te agride, te ofende, te reduz ao pó. E se eu pensar direitinho, não é por causa da idade, porque sempre foi assim. E infelizmente não é algo que vai mudar com o tempo. 

Mas embora as feridas estejam lá, no coração, na alma, imperceptíveis ou não, elas tem um papel importante nos anos que se seguem. Elas nos moldam, define o caráter, nossa forma de ver o mundo, as outras pessoas, nossos filhos. Define como vamos nos proteger dali em diante. Porque querendo ou não temos que aprender a lidar com isso, com a dor, as críticas e manter aquele sorriso de paisagem como se estivesse tudo bem. Pelo menos até o dia seguinte, pois é quando você olha no espelho e vê exatamente a pessoa que é e que muitas outras também enxergam.

E o que aprendemos com isso é que somos livres para escolher o que queremos ser e o que desejamos para o futuro. Nem sempre é fácil limpar a alma amargurada e seguir em frente. Porque ficar chorando também não adianta nada. Você desabafa um pouco mas entende que é preciso se reerguer e mudar as "estatísticas". Porque nada nos faz mais fortes do que acreditar em nós mesmos. 


Marion Vaz

Obrigada por ler este meu desabafo. Por isso peço que leia o próximo post

 http://marionvaz.blogspot.com/2020/12/ha-tanta-vida-la-fora.html