Vira e mexe a gente tem que ir ao banco. Alguns com mais frequências que outros, isso é certo. Então, lá estava eu, aguardando a vez na fila de atendimento. De repente, um contratempo, uma senhora queria entrar, mas a porta giratória travou. Isso acontece. Chaves. celulares, guarda chuva, e outros objetos tem esse poder de travar sua entrada numa agencia.
O incômodo é geral. O guarda chega mais perto, pede pra gente abrir a bolsa, tirar os objetos, todo mundo, todo mundo mesmo para o que está fazendo pra olhar o nosso constrangimento. Em alguns casos, ou bancos, o próprio policial destrava a porta e pede para olhar a bolsa da pessoa e libera a entrada dos demais. Mas se ele desconfiar de alguma coisa, o impasse continua até o sistema parar o alarme.
Mas naquele dia foi diferente. A senhora com seus sessenta e poucos anos, com aparência de enferma, colocou o guarda chuva no portal indicado, as chaves, etc. Mas o sistema continuou apitando. O guarda de serviço, ficou lá repetindo a frase:
- Senhora... Tem algum objeto na bolsa travando a porta.
A mulher começou a ficar nervosa, pediu para entrar, mas ele ficou lá, seguindo o manual, passo a passo. Dava pra ver a irritação tomando conta da pobre senhora e dos demais correntistas que esperavam do lado de fora, e num sol de 40°. Um deles era um senhor de mais de 60 anos tentando se equilibrar em sua muleta. E o guarda lá, com aquele ar de "estou cumprindo o meu dever!"
Do lado de dentro, as pessoas na fila começaram a comentar o assunto. Ouviu-se de tudo, de coitados, isso é uma absurdo, crime de constrangimento, palhaçada a outros termos que definiam bem a situação, um burburinho só. O homem de muleta disse que iria ligar para a polícia. A mulher que parada na porta giratória ameaçava processar o banco, os funcionários, mandou chamar o gerente. Depois de uns 10 minutos nesse impasse, o gerente apareceu. Então pensamos: Ele vai liberar a entrada da senhora. Não! O talzinho começou a repetir as mesmas frases do policial.
- Senhora tem algum objeto na bolsa travando a porta. Estica o braço. A mulher esticava o braço com a bolsa e pi pi pi! - Tá de brincadeira! A coitada nervosa gritava: Eu não vim assaltar o banco não, só quero fazer um depósito urgente!
- Senhora...
Aquele "senhora" começou a me dar nos nervos! O problema aumentou, pois se a mulher não podia entrar, os demais não podiam sair. Aí se formou uma fila enorme dentro do banco. Então apareceu uma moça loura, com seu sapatinho alto, cheia de pose e um molho de chaves na mão. Ela abriu a porta ao lado para que as pessoas pudessem sair. Por que eles não deixavam a tal senhora entrar por ali e verificavam se havia mesmo algo na bolsa para tanto alvoroço? Já vi isso acontecer em outros bancos. Mas não! Do lado de fora uma fila imensa aguardava o desfecho da situação. Realmente não entendo esse tipo de atuação em que seguir o protocolo é mais importante do que o ser humano. Por fim, o gerente resolveu destrava a porta e a mulher entrou no banco dizendo mil desaforos.
Na fila, esperávamos, sem qualquer tipo de paciência, um atendimento no caixa. Mas não demorou muito e começou tudo de novo. Agora com uma moça com seus vinte e poucos anos. O sistema travou e ela ficou lá, parada, esvaziando a bolsa. Nada! E o guarda e o gerente, com sua frase mecânica causavam constrangimento.
- Senhora...
E lá vem a moça loura balançando as chaves e fazendo barulho com o saltinho do sapado: Tec tec tec! Mas dez minutos de "Isso é um absurdo!" e enfim a pobre moça consegue entrar na agencia bancária, com seu rosto avermelhado de vergonha e um sentimento de tristeza. Pois ela não sabia que isso tinha acontecido com outra pessoa. Fiquei com pena dela.
Quando a terceira vítima, uma mulher de 50 anos foi impedida de entrar e todo o tumulto recomeçou, comecei a pensar: Será que eles não estão vendo que o problema é do sistema? Mas que droga! A porta é machista! Só pode ser! Se fosse uma pegadinha, poderia até ser uma crítica as nossas bolsas! E como nós, mulheres, levamos trecos na bolsa!!!
Bem. Eu sai do banco consciente que naquela agencia eu não entro mais!!!
MarionVaz
* Por questões éticas não revelo o nome do banco. Mas a história é verídica.
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