A novela Os Dez
Mandamentos, produzida pela rede Record de Televisão, finalmente chegou ao fim.
Se é que podemos chamar aquele último capítulo de The End. Afinal depois de
fazer tanto sucesso entre os telespectadores, os produtores resolveram dar
continuidade a História do povo de Israel... Só que no próximo ano.
Até aí nada. No
entanto, como pude comprovar assistindo alguns dos belos episódios, houve certa
“ironia” do autor ao deixar escapar sua “preferência” e durante o enredo
algumas adaptações foram feitas com base no nosso contexto social: Muito
sentimentalismo da parte dos hebreus para com seus opressores, casamentos
mistos, antipatia de uns versus comoção de outros, indicando até que havia
arrependimento entre o povo hebreu em relação às perdas dos egípcios em virtude
das pragas, destruição e mortes. No ponto alto da tragédia, hebreias levaram
alimento para as patroas egípcias depois de uma das pragas. Muito típico do
ponto de vista humano, mas completamente fora do padrão bíblico das dez pragas
que foram programadas por Deus naquela época, para a destruição do Egito.
O personagem do próprio
Moisés, líder indicado por Deus para tirar o povo de Israel do Egito, passava o
dia lamentando a tragédia de seus, conforme mostrou a novela, meios-irmãos.
Faça-me o favor... Só faltou pedir desculpas a Faraó por todo incômodo que Deus
causou!
Enquanto que algumas cenas foram fieis ao relato bíblico, a produção se
dedicou em mostrar talento e riqueza de detalhes. E personagens que vão ficar
para sempre na nossa memória. Aplausos ao Simut!
Assim, fugindo em parte
do relato bíblico, as cenas se alternavam entre o acampamento hebreu e a vida
no palácio. O “jeitinho brasileiro” esteve presente em várias cenas e isso
ninguém pode negar e dramas que se alongaram tanto que dava até sono. Enfim,
quem manda é quem paga as contas... Faltou um pouco de bom senso do autor,
quando os primogênitos do Egito se refugiaram na terra de Gozén para evitarem o
anjo da morte... Então qual seria o
significado das dez praga?
O que me incomodou
mesmo foi a finalização da temporada. Como a novela se chamava Os Dez
Mandamentos, todos nós esperávamos ansiosos por um desfecho mais original. Quem sabe uma gravação no Monte Sinai, de
Moisés recebendo as Tábuas da Lei, a visão da Terra Prometida, a renovação das
promessas de Deus. Afinal, a novela passou o tempo todo mostrando o povo crendo
em Deus, esperando um milagre, ansiosos pela liberdade...
Mas Não. Seguindo o desenrolar da história bíblica, fizeram a encenação do Bezerro de ouro (Ex 32). Moisés descendo do monte encontrando o povo festejando, e as Tábuas dos Dez Mandamentos se quebrando em milhões de pedaços e praticamente virando pó diante dos olhos dos telespectadores.
Mas Não. Seguindo o desenrolar da história bíblica, fizeram a encenação do Bezerro de ouro (Ex 32). Moisés descendo do monte encontrando o povo festejando, e as Tábuas dos Dez Mandamentos se quebrando em milhões de pedaços e praticamente virando pó diante dos olhos dos telespectadores.
Tudo bem que a história
é verídica e foi relatada na Torah. Mas precisava terminar a novela assim?
Sinceramente, eu teria feito melhor! Então vamos às críticas:
1 - Por causa da
audiência, deixaram aquele ponto de interrogação no ar, como se as pessoas que
seguiram cada capítulo da novela se congelassem e ficassem assim até que as
próximas gravações fossem exibidas.
2 – As Tábuas da Lei se
espatifando no chão daquele jeito transmitiram a ideia de que não há razão para
se acreditar nos Mitzvot – nos Mandamentos de Deus. A razão da novela se chamar
os Dez Mandamentos e todos aqueles capítulos convidando o povo a ter fé em Deus
deveriam ser para manter a fidelidade nos escritos sagrados. Mas ao virar pó se perdeu
por completo. Ao dar continuidade daqui a três meses só vai favorecer os patrocinadores,
que no caso, marcaram forte presença com seus inúmeros anúncios nos intervalos
dos capítulos. O que nos leva acreditar que marketing e comércio é o “fim para
todas as coisas”.
3 – Sabemos que o povo
de Israel, ao sair do Egito, não entrou logo na Terra Prometida - Eretz Israel
– Houve sim um período de 40 anos no deserto, para reestruturar a nação, tanto
no sentido espiritual quanto social. A trajetória no deserto serviu de alicerce
para a restauração do povo perante o Eterno. Uma fase indispensável e planejada
pelo próprio Deus que os livrou da vida de cativeiro no Egito. Não tem o que se
criticar ou ponderar. Eu resumo aqueles 40 anos na seguinte frase: Deus
precisava de um tempo a sós com o seu povo.
O que me irrita é ver que
tal episódio passou a ser visto como castigo. E daí por diante, as experiências
do povo e seu relacionamento com Deus, gerou uma série de pseudo tratados
teológicos. Para completar, ao mostrar o episódio do bezerro de ouro e aquela
súbita interrupção, caiu-se de novo no velho erro da troca de valores e da
omissão do contexto bíblico sócio religioso que o povo de Israel estava
vivenciando. Novamente observamos que a falta de informação pode prejudicar a
opinião das pessoas em relação ao povo judeu, criando até um sentimento de aversão
ao israelismo.
Teria sido mais
prudente terminar a novela com a entrega dos Dez Mandamentos, reafirmando as
promessas de Deus para Israel, mostrando que existe sim uma ligação espiritual,
com base nos textos bíblicos do povo judaico com aquele território. Esquivando-se
deste propósito para não se comprometer perante a opinião pública, já que
existem controvérsias a respeito do assunto e sérias aversões contra Israel e
favorecimento do povo palestino, desmereceu toda a produção da novela.
Mesmo que não tenha
sido este o motivo para tal desfecho e sim privilegiar os rendimentos e manter
a curiosidade dos telespectadores para a próxima produção, ainda assim, a magia
dos Dez Mandamentos se quebrou com o estalar de uma varinha mágica naquela
única palavra: Continua...
Marion Vaz