Analisando um artigo
respondi que muitos grupos de pessoas saem de seus locais de origem para os
grandes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Interessante
notar que cada um traz uma bagagem cultural, que ora beneficia o carioca e em
outros momentos ajudar a diversificar nosso cotidiano. Não que a vida aqui seja
chata e sem graça... Longe disso! Porque alguns aqui mesmo no Rio, de uma forma
engraçada nos impõem seu modo de falar, de viver, sua culinária e até de
encarar um drama e drama é o que não falta! Como o povo reclama! Difícil mesmo
é encontrar uma pessoa de bem com a vida distribuindo felicidade.
Foi numa viagens de
ônibus que passei a prestar atenção nas esquisitices urbanas. Olhei através do
vidro da janela e vi uma mulher falando ao telefone, gesticulando muito,
andando de um lado para outro sem qualquer constrangimento. Devia estar
discutindo com a pessoa do outro lado da linha. Não é raro passar ao lado de alguém
na rua com um telefone, mas que parece estar falando sozinha, ou ouvir parte da
conversa de pessoas que vão pra lá e pra cá. Costumo dizer se juntasse todos os
comentários que ouço daria para escrever uma história!
Esquisitices a parte,
tem coisa que é puro marketing. O vendedor tem que ter criatividade para chamar
a atenção do cliente. De longe ouvi uma pessoa gritando, ou melhor, suplicando:
Água! Água! Quando o som da voz foi ficando mais alto, o carinha passou por mim
gritando: Água... Eu vendo água! Tive que rir! Se estiver passando num bairro
comercial como Madureira, por exemplo, vai ouvir alguém gritando: Olha o
pesado! Olha o pesado! Sai da frente que o cara quer passar com sua carga! Quer
coisa mais esquisita do que aquela barulheira na porta das lojas de locutores
chamando o povo para entrar e anunciando promoções? Fala sério!
Um senhor entrou num
transporte público gritando: Eu quero homem! Todo mundo olhou pra ele. Mas o
talzinho não estava nem aí pra ninguém e continuou clamando: Eu quero homem!
Ninguém riu. Sabe-se lá o que ele queria dizer com a frase? Os passageiros
ficaram apreensivos, olhando uns para os outros. Num mundo tão agressivo como o
nosso, é melhor prestar atenção em quem está ao lado. De repente a frase mudou:
Deus me mandou procurar homem! – Aí ficou esquisito mesmo! Só pensei. Deus me
mandou procurar homens fortes, corajosos... Continuou o tal senhor. Só pega
isso quem for homem! Mais esquisito ainda – Só então ele passou por mim e vi que
estava entregando uma espécie de folheto religioso. Acho que naquele momento
todo mundo respirou aliviado. O sujeito continuou provocando: Tem homem aí? Por
que se não tiver homem vai mulher mesmo! Deus mandou procurar homem, mas serve
mulher também! Que vontade de rir alto! Mas não, o povo é educado e só se ouviu
as gargalhadas quando o tal sujeito saiu da condução.
Não é perseguição, mas
reparou que esse tipo de abordagem acontece na maioria com pessoas do
seguimento religioso evangélico? Cada um tem um jeito próprio de “pregar” e não
está nem aí se alguém vai considerar que ele está “pagando mico”. Num
determinado centro comercial, o homem de terno e gravata com uma Bíblia nas
mãos, num calor insuportável, chamava a atenção das pessoas. Eu estava com
pressa, mas como de longe já estava ouvindo os gritos prestei atenção ao passar
perto. Ele gritava: Mulher! Você tem que obedecer seu marido! É a Bíblia quem
diz... Porque se você não obedecer a Palavra de Deus, você vai para o inferno!
Ele estava curvado na rua, olhando para o chão... Será que tinha uma pessoa
ali? Não! Ele estava falando com uma bola de papel amassada que tinha jogado no
chão! – Sem comentários!
Coisa chata mesmo é
gente sem educação! A pessoa entra num transporte público, paga uma absurdo
pela passagem e senta num banco nada confortável. Aí vem aquele sujeito desbocado
(ou mulher) e ficar conversando com a pessoa ao lado ou no telefone falando um
monte de palavrão! Não quer nem saber se têm senhoras, crianças, moças no
ônibus e sai repetindo impropérios, um atrás do outro! Devia ter uma lei sobre
isso da mesma forma que proibiram fumar dentro de um ambiente fechado! E detalhe: Durante a viagem você fica sabendo sobre a vida
toda da pessoa ou do parente dela! Mas pode surgir também aquele “chato de
galocha” que mais parece uma enciclopédia ambulante, informando tudo aquilo que
você pode ler e aprender na Google.com – Ignore!
As esquisitices urbanas
também são digitais e para facilitar a vida nada melhor do que Wi-Fi gratuito!
E na praça de alimentação de qualquer shopping você vai encontrar uma família
de quatro pessoas sentadas numa mesa esperando o lanche e todas, sem exceção,
usando o celular. Se duvidar é só passear por qualquer lugar, olhar para os
lados, estações de ônibus e metrô e contar nos dedos quem não estiver usando o
celular! Minha netinha de 1 ano e pouco já sabe usar um celular! Todo mundo conectado, enviando imagens em
tempo real! E sem repressão posso
afirmar que em alguns casos isso é muito bom!
Conversas em filas de bancos
são sempre as mesmas: O alto custo de vida, a falta de remédios, a criminalidade, o
governo incompetente, a demora no atendimento. Você respira, olha para um lado
e para outro e... Volta a falar dos mesmos assuntos.
Coisa que identifica a
vida urbana é a pressa – Ninguém tem tempo para nada! Você senta em frente à TV para ver um documentário e lá está aquela
cidadezinha do interior com seus gramados aparados, suas praças, gente andando
sem pressa, dando bom dia para o vizinho ou sentada no banco da praça, nas
portas das casas. Tudo tão calmo que você fica agoniado!
Passei por uma amiga
esta semana que eu não via há mais de dois anos e logo que cumprimentei a
pessoa me respondeu: Estou como uma pressa, minha mãe está doente, não consigo
comprar remédio, blá-blá-blá... Em segundos fiquei sabendo sobre a semana toda
e no meu caso não deu tempo nem de respirar (risos) – Só fiquei com um: “Depois
a gente se fala” – Ok! Então tá!
E assim a vida passa...
Com as pessoas acorrentadas às suas próprias vidas, seus dilemas - solidão
urbana.
Marion Vaz