terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Ananias e Safiras – Se rebelando contra o Sistema

Auditores fiscais criam esquema de lavagem de dinheiro - Diário do ...

Nada mais intrigante do que a morte súbita deste casal. Talvez causada por um ataque do coração, visto que caíram mortos no chão. É provável que estivessem sobre estrema pressão por causa de um negócio e o valor recebido pela propriedade. Mas o que sempre me impressionou nesta passagem bíblica de Atos 5 são os comentários e reflexões referente a vida espiritual do casal e de todos aqueles que “mentem ao Espírito”.

Pelo menos é essa a consideração feita sobre o assunto. Pois a Igreja estava se estruturando e “todos tinham tudo em comum” (At 4.32) de maneira que vendiam suas propriedades e davam o valor total da herdade aos discípulos para que eles distribuíssem aos outros e assim “não havia entre eles necessitado algum” (vs 34).

Interessante notar que tal passagem bíblica continua sendo, nos dias de hoje, contada com a mesma noção de certo e errado. No caso, a atitude de Ananias e a esposa são consideradas erradas porque contrariava o Sistema. Já falei um pouco sobre o que levou Safira a agir daquela forma e ter o mesmo destino do marido em meu livro Mulheres em Crise.  Acredito que a esposa não teve outra opção a não ser agir com obediência ao marido em virtude do contexto social da época.

Mas agora vamos examinar a passagem por outro ângulo. Quem instituiu este Sistema de dar todos os bens em função da causa: D-us  ou os homens? Se não foi D-us que determinou tal ordenança, visto que também não há registro disto, por que Ananias foi punido por se insubordinar contra o Sistema? E por que continuamos repassando o mesmo conceito de punir Ananias e Safira por sua atitude, se nos dias de hoje não podemos condenar ninguém por proteger seu negócio, propriedade e bens ao invés de “vender e dar tudo aos pobres”?

Não que isso não aconteça. Existem Comunidades religiosas que exigem isso de seus membros como prova de fé e confiança nas providências divinas. E assim, consomem dia a dia os bens e as ofertas alçadas de muitos fieis. Com sinceridade, não consigo condenar Ananias e Safira por reter parte do valor arrecadado para uso pessoal ao invés de alimentar o Sistema. Alguém agora deve estar me chamando de herege. Oh! Mas eles mentiram ao Espírito Santo!

Bem, a história mostra que era um Sistema com sérios comprometimentos em longo prazo, pois a Igreja de Jerusalém passou a ser a mais pobre e mais necessitada (1 Co 16.3) e num período crítico da História se pedia ajuda para os irmãos da Judeia (At 11.28-29). Dizem os entendidos que a distribuição também não era justa (At 6.1) então foram instituídos diáconos para administração e redistribuição dos valores arrecadados. Se bem que o termo usado na Bíblia foi “importante negócio”, talvez seja daí que os mentores de hoje se apoiem para pedir tanta oferta e doações. Hum...

Posso afirmar que em relação à religiosidade, havia um desenvolvimento espiritual muito grande e importante para Igreja nos seus primeiros anos de crescimento. As pessoas eram crentes mesmo, religiosas e devotas. E esse número crescia vertiginosamente dia a dia, mesmo diante do contexto social que viviam. A pregação da Palavra de D-us trazia conforto e arrependimento dos pecados. Assim, perseguições e afrontas não foram barreiras para esses novos cristãos que chegaram a dar a própria vida em fidelidade à fé. O Livro de Atos nos mostra passo a passo o caminho percorrido pelos apóstolos, o crescimento e a expansão do Evangelho de Jesus até os confins da terra do mundo então conhecido.

Voltando ao assunto do artigo, será que Ananias teria sido punido se tivesse dito a verdade? Tipo: Os bens são meus e o valor da venda também e eu não estou a fim de sustentar um bando de gente à toa! Com certeza essa seria a forma de hoje de se rebelar contra o Sistema! Dizem os estudiosos que os apóstolos e novos crentes achavam que a Volta de Jesus seria naquela geração e assim não precisavam de tantos bens. Somente o que podiam consumir no dia a dia até que Jesus voltasse para levar o seu povo. Bem, é provável que com o passar do tempo, os ricos tivessem perdido os bens e a contribuição foi diminuindo. Os pobres ficaram bem mais pobres e os que ainda tinham alguma herdade precisavam pensar num meio de sobrevivência. Talvez esse fosse o caso de Ananias... você pode concordar ou não.

Com perdão do Apóstolo Pedro, o coitado do Ananias estava com uma carga emocional tão grande sobre os ombros que só de encarar os apóstolos não tinha condições nem de respirar e Puf! Ao tocarem no assunto caiu duro no chão (vs 5). Ataque fulminante do coração! Sem menosprezar o teor educativo e a  relevância espiritual que a passagem bíblica possa trazer aos corações, não é essa a ideia que se transmite hoje em dia? Ou você contribuiu ou sofrerá danos colaterais?

Mas... E se ele não tivesse vendido àquela propriedade? Se quisesse ficar com ela ao invés de ser coagido a vender e repassar o valor porque talvez o Sistema já mostrasse suas falhas, e o número de necessitados era bem maior do que se podia sustentar? Coagido sim. Porque se todo mundo contribui você se sente constrangido a fazer também. E só pra constar Ananias já estava vivendo no tempo da “Graça” tá! Ele tinha todo o direto de se retratar se... A conversa tivesse demorado um pouco mais! Infelizmente o pobre Ananias não teve tempo. 

Estava presente numa reunião religiosa num domingo em que o Líder espiritual mencionou tantas vezes a palavra milhões que eu me senti constrangida com meus míseros reais na bolsa. Algo fora da realidade de muitos que estavam ali. Dizia ele: A obra X custou tantos milhões, a obra Y outros tantos, a reforma da obra M pode ser de 600 mil e eu ali sentada pensando: Puxa vida! E aquele Mentor auxiliando a plateia para a liberalidade. E assim temos hoje inúmeras campanhas, a Oferta do amor, Oferta do desafio, Oferta da diferença... O discurso alinhado a Palavra de D-us e efeitos psicológicos afetam o público de tal forma que a pessoa oferece mesmo não tendo, se compromete a longo ou curto prazo e se dana toda pra “ofertar” só pra não “mentir ao Espírito”. Pronto falei! Não concordo com esse tipo de técnica...

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Não estou menosprezando a fé e nem a oferta de ninguém. Não estou dizendo que não se deva ofertar e dar o dízimo, contribuir para algumas benfeitorias nas igrejas... É bíblico ofertar! Existem bênçãos para o ofertante. Estou falando de pessoas se comprometem em obras faraônicas, assumem um número exagerado de responsabilidades e querem que, no final do mês,  você ajude a pagar a conta! Quem está à frente do Sistema: Fulano. Quem ganha status: Fulano. E você "Ananias"? 

Pense nisto.

Marion Vaz



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Não sei como ela consegue?

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Assisti um filme muito interessante esta semana. Era uma história até muito engraçada sobre um casal que tinha dois filhos e que trabalhavam em diferentes áreas. Os dois tinham projetos importantes e tinham que dedicar mais tempo ao trabalho do que ao lar. O roteiro mostrava como a mãe, dona da casa, esposa e dedicada funcionária tentava se adaptar  aquela vida corrida, viagens a negócios e fusos horários. Por sorte ela tinha uma empregada que além de cuidar da casa, era uma pessoa de confiança e dedicada babá para as crianças. 

Kate, parece um pouco atrapalhada, distraída em alguns momentos, resolvida em outros assuntos, mas se autodenomina dedicada mãe para seus filhos, mesmo que a menina tenha certas reservas em relação ao seu comportamento. Kate procura não esquecer as datas de aniversário e compromissos familiares. Mas era só o telefone tocar que seu sensor dava um sinal de alerta.

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A primeira cena que chamou atenção mostrava o marido impaciente porque tinha que sair para uma reunião importante, mas a empregada estava atrasada por algum motivo. Ele reclamou com a esposa e disse que ia chamar a atenção da fulana. A esposa quase teve um treco e saiu em defesa da talzinha afirmando que ela era uma ótima empregada, sabia tudo sobre a casa, as necessidades das crianças e que igual a ela jamais encontraria. Não mesmo! Afirmou. Enquanto discutiam a mulher chegou e logo pegou o menino pequeno no colo e começou suas atividades e os patrões saíram para trabalhar.
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Interessante que algumas cenas depois me aparece a empregada falando para a patroa que o cabelo do menino estava muito grande e como precisava ser cortado com urgência e ela tomou a iniciativa e levou a criança ao barbeiro para aparar a franja. Foi o suficiente para a mãe ficar nervosa.

- O primeiro corte de cabelo! Dizia a mulher. Eu queria estar presente! Era importante!
- Como a senhora estava no trabalho não quis incomodar.
- Mas fulaninha, tentou falar com certa reserva sem querer ofender a empregada, de que queria ser notificada de tudo, de qualquer coisa relevante ou não sobre os filhos. E até compreensível. Mas em outras partes do filme a mãe volta a repetir o assunto: O primeiro corte de cabelo... Como se fosse o fim do mundo. O primeiro corte de cabelo...  Ao sair em viagem naquele dia a dona da casa tinha até lágrimas nos olhos! Nunca mais vai haver o primeiro corte de cabelo...

Ela podia não estar presente em casa e como afirmou o próprio marido numa das vezes que eles brigaram: Mesmo quando estava em casa, ela não estava presente, porque sempre tinha um telefonema pra atender, uma amiga pra conversar, um projeto em particular... Mas não podia perder o primeiro corte de cabelo?? Bem... O interessante é que sua linha de raciocínio começa a mudar a partir deste episódio.

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Entendi que a empregada era ótima pessoa, cuidava dos filhos dela quase que em tempo integral enquanto a mãe e o pai trabalhavam com afinco para realizar seus projetos e ganhar mais dinheiro. A babá era boa para levar os filhos na escola, levar no parquinho, brincar com eles, dar comida, lavar a roupar, etc. Mas afinal e daí, você deve estar se perguntando. Não era para isso que ela era paga? Com certeza! Entendi que ela não podia tomar decisões porque ela não fazia parte da família. Naquele telefonema, a relação era entre patroa e empregada. Não interessava se a talzinha também tivesse que adiar seus planos porque o voo atrasou, ou por causa de uma reunião de emergência, ou porque a patroa tinha que sair com as amigas. Talvez ela recebesse um bônus, mas o filme não mostra isso.


Pra saber como ela consegue é só prestar atenção na história e no dedicado marido que segurava as pontas em casa, quando a mãe não podia assumir algum compromisso por causa do trabalho. Por outro lado podemos detectar nessa "parceria" o vínculo que mantinha a família unida. No desenrolar da história os pais conseguiram realizar seus projetos, tiveram festa de natal e até neve caindo do céu. 

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A empregada continuou suas tarefas porque afinal... Devia ganhar bem. Porque com tanto trabalho devia ser bem remunerada e “pelo andar da carruagem” as pessoas não podem abrir mão de seus empregos. E Kate e o marido tiveram aquele final feliz que toda família deseja.

Moral da história: Kate, o modelo de pessoa realizada que toda mulher deseja ser, mas que, quando enfrenta as dificuldades tem sempre uma "fada madrinha" com varinha mágica nas horas do sufoco. Infelizmente na vida real não é assim. a gente se desgasta muito pra criar os filhos e dar a impressão que as coisas estão aparentemente perfeitas. Nem sempre estamos bonitas e com sorriso no rosto. Parece fácil ser uma dedicada mãe, dona de casa, profissional de destaque quando se tem alguém em quem se apoiar. Não acho que Kate seria assim tão maravilhosa sem ajuda da família, do marido ou da empregada. Sim, acho que já sei como ela consegue...


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Marion Vaz