Certamente esta mulher
vivenciou uma crise. Com o coração entristecido por não poder dar a luz a uma
criança, Sarah se vê diante das promessas de Deus para com o patriarca Abraão
de que ele seria uma grande nação.
Muitos comentaristas da
Bíblia, preletores e estudiosos ao se depararem com a história desta mulher,
acabam condenando suas atitudes. Mas se olharmos para o contexto social da
época temos razões sublimes para aceitar sua maneira de pensar. Então vamos voltar no tempo?
Imagine uma mulher casada, vivendo como
andarilha numa terra estranha (depois que saiu de Ur dos Caldeus para Canaã)
vendo todas as suas servas tendo filhos? Passados muitos anos de sua vida, já
com idade avançada, sem menstruação, se vê diante de um dilema, uma promessa de
que seu marido seria pai...
Com certeza ela riu
escondida atrás da porta, ao ouvir estas palavras do anjo. Pense que Sarah não
tinha, como Abraão, toda aquela intimidade espiritual com Deus. Ela ainda
estava aprendendo a lidar com toda aquela situação, aquele vai e vem, monta e
desmonta as tendas (pois a ordem de Deus era para percorrer a terra em sua
largura e comprimento), e Abrão se envolvendo em guerras. O marido praticamente
mudou de religião! E a mulher ali, tendo que obedecer, respeitando a opinião e
o querer do esposo.
Se hoje em dia, já é difícil
para uma mulher conciliar o trabalho de casa, com as aptidões espirituais,
acompanhar o marido, caso ele se torne obreiro, evangelista ou pastor, em suas
atividades na igreja, imagine Sarah, numa época que a mulher não tinha o
direito nem de dar opinião como era a conduta dos povos ao redor!
Simples mesmo é olhar para o
texto bíblico e tirar nossas próprias conclusões. Não pense que foi fácil para
Sarah oferecer Agar como mulher ao marido. Ela devia estar muito angustiada,
pressionada, além do que, era um costume da época, um padrão de comportamento.
Basta olharmos para a história de Jacó e todos os filhos que teve com as
esposas e as servas.
Mas para Sarah seria um
“recompensa” saber que o marido teria uma criança nos braços. No contexto da
Aliança feita por Deus com o patriarca, não era o ideal. Mas Ismael também foi
abençoado por Deus. Mas a promessa da posse da terra era para Abraão e seus
descendentes com Sarah, o que se cumpriu em Isaque.
O que me impressiona na
história dos patriarcas é, sem dúvida, a mudança dos nomes. Abrão passou a se
chamar Abraão e Sarai, Sarah. Da mesma forma que Jacó passou a se chamar Israel
como parte do cumprimento da aliança. Ao assumirem esta postura, mesmo com as
inúmeras indagações, estavam se posicionando como herdeiros da promessa, da
aliança eterna.
Talvez isso nos falte hoje
em dia, esse comprometimento. Em parte cremos, em parte queremos “ver para
crer”. Concorda? Mas como está escrito em Hebreus 11 eles tomaram posse das
promessas pela fé, muito antes de qualquer realização. Viam o “invisível”. E o
texto afirma que foi pela fé, que Sarah recebeu a virtude de conceber e dar a
luz já fora da idade (Hebreus 11.11). O que nos revela um crescimento espiritual.
Outra crise vivenciada por
esta mulher foi no momento em que se viu obrigada a pedir ao esposo para escolher entre ela e Isaque ou Agar
e Ismael. A decisão de despedir a serva com o filho foi sábia, os dois meninos
não poderiam herdar juntos a Terra Prometida. E Sarah agiu conforme o seu
coração para proteger o filho das implicâncias de Ismael e de futuras
complicações.
O que nos leva a pensar se
estamos dispostos a arriscar, a nos envolver, a tomar decisões difíceis pelos nossos filhos ou se é
mais fácil sermos coniventes com as situações?
Texto extraído do livro Mulheres em Crise de Marion Vaz
Túmulo dos patriarcas em Hebrom - Israel