Toda história tem sempre dois personagens marcantes: um deles é o herói e outro é o vilão. Além de muitos outros que aparecem no enredo em que as histórias se entrelaçam, vamos encontrar um vilão que faz tudo para prejudicar a vida de alguém e o herói que marca presença salvando a situação.
Já comentei sobre alienação parental aqui no blog afirmando que fazer constantes acusações (mentirosas ou verdadeiras) sobre os pais contribui de forma significativa para denegrir a imagem da principal figura em que os filhos deveriam se espelhar. O nosso artigo tem como base esse comentário que ouvi na rua, quando voltava da escola da Sarah. Uma jovem passava com um carrinho de criança e logo atrás dela vinha uma senhorinha com seus cinquenta e muitos anos.
A jovem mãe conversava com o filho, talvez levando para a creche. Sem qualquer constrangimento dizia para a criança: Vovó é feia, vovó é chata né meu bem?! Olhei para a senhorinha e realmente achei que ela estava "acabadinha". Talvez pela correria da vida não tivesse mesmo se preocupado com sua aparência. Ela olhou para mim deu um sorriso sem graça porque percebeu que eu tinha ouvido tudo. Segui meu caminho pensando: "fala assim não, vovó trabalha feito louca".
E na maioria das vezes, nós, as vovós, somos incompreendidas em alguns aspectos. Seja lá por qual razão, penso que nunca estamos à altura do padrão da vovó Google, da vovó internet, da vovó médica, da vovó autora de algum livro. E nossa experiência de criação de filhos não conta porque já faz muito tempo. E no meu caso nem sei fazer tortas de maçãs ainda (risos).
Em relação aos sentimentos somos sempre exageradas ou medrosas. Enfim, aprendi na prática que quando isso acontece melhor mesmo é dar espaço. Com exceção daquele "sexto sentido" que me faz ser intrometida quando algo que me incomoda e me sinto na obrigação de falar. Mas sempre procuro ocasião apropriada porque na minha cabeça, a neta é minha e eu tenho todo o direito de querer o bem dela.
Mas a criança do carrinho era ainda bem pequena e talvez você pense que um comentário casual não possa influenciar em seus sentimentos ao longo dos anos. Concordo. Mas pelo que observei naqueles poucos momentos em que a mãe passou por mim na rua e na carinha triste da senhorinha, me pareceu que era uma cena corriqueira em que a vovó era criticada pontualmente. Talvez a senhorinha nem fosse a tal vovó feia e chata. Mas não muda o fato da mãe tentar desmerecer a figura da avó diante da criança! Não sei você, mas eu entendo que a figura materna é o ponto de referência da criança. O pai também.
O tipo de convivência dentro do ambiente familiar traz benefícios ou malefícios ao desenvolvimento de uma criança. Imagine que a vovó é parte da família e talvez more na mesma casa, mas se ela é feia e chata, se ela é velha, medrosa e exagerada e tem suas preocupações em relação ao neto ou neta questionadas ou ridicularizadas diante da criança, então ela é quase a vilã da história?! Concorda?
Por outro lado, talvez nossa mamãe estivesse mesmo revoltada com a vovó e estivesse apenas desabafando. É possível que a vovó feia e chata seja mesmo insuportável, mandona e que passe o tempo todo criticando cada atitude da filha ou da nora. É provável que nessa constante luta de troca de papéis entre herói e vilão uma pessoa tente minar a confiança dos filhos em relação a seus pais ou parentes próximos. Neste caso, acredito que a mãe tem todo direito de proteger sua criança de uma pessoa amargurada e rancorosa. Sinto muito. Opinião minha e você pode discordar.
O que me faz refletir: Estamos comprometidos no desenvolvimento emocional das nossas crianças/adolescentes, a ponto de "engolir sapos", ou dar espaço suficiente para que os pais se tornem responsáveis por seus filhos? Ou vamos ultrapassar os limites interferindo o tempo todo só para manter um padrão ou o controle de tudo? Cada membro de uma família tem, além de suas obrigações, o seu espaço na vida dos filhos e dos netos. E só pra ficar claro, papais, mamães e avós também erram, mesmo querendo acertar. Mas não é por isso que são pessoas ruins.
De uma vovó para outra: O importante é o que podemos contribuir sem desmerecer o amor, a confiança, o trabalho e a devoção do outro.
Marion Vaz
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