domingo, 22 de agosto de 2010

Contos: Noites Escuras


- Bom dia senhora! Quer? Perguntou o enfermeiro oferecendo uma xícara de café. Mirian sorriu para o jovem estagiário e experimentou em pequenos goles, o líquido quente. Ela sorriu embora seus olhos e seu coração estivessem mergulhados numa imensa tristeza.


O jovem saiu do quarto e seguiu em frente pelo corredor do hospital distribuindo gentilezas aos pacientes e aos acompanhantes, que incansáveis, a beira dos leitos, esperavam um milagre.

Os raios do sol penetravam no quarto trazendo um pouco de luz aquele ambiente sombrio. Enfermeiros e médicos começaram o plantão, andando de um lado a outro do corredor, visitando os pacientes. Eles mediam a pressão arterial, liam os prontuários, receitando medicamentos ou dietas alimentares.

Doutor Hugo entrou no quarto da jovem Gabi e anotou alguns dados, Mirian olhou para ele e antes que pudesse fazer alguma pergunta, ouve o mesmo diagnóstico.
- Nenhuma mudança! Sinto muito. Falou em voz baixa e saiu. A mãe da moça deixou as lágrimas brotarem nos olhos e escorrer pela face. Ela segurou uma das mãos da filha e orou:
- Por que meu Deus? Por que? As indagações se transformam em pedidos, em gemidos de dor e sofrimento.

Depois eram as lembranças que vinham lhe fazer companhia, umas boas, outras não. Lembrou do dia em pela primeira vez abraçou o corpinho de um bebê na maternidade. Gabriela, enviada de Deus. Disse baixinho lembrando o significado do nome da filha. O primeiro aniversário, os primeiros passos, a primeira palavra. A festinha de quinze anos... como estava linda!

Gabi era uma moça alegre, desde pequena aprendeu a amar a Deus, agora cantava num grupo de moças, recitava poesias e também as escrevia. Obediente, bonita e cheia de vida até aquele dia...
- Posso entrar? Perguntou Sueli da porta do quarto. Era hora da visita. A mãe desperta e enxuga as lágrimas. Procura conter suas emoções diante da irmã, mas é impossível.
- Foi horrível! Um acidente... Tentava explicar. Um tiroteio... De repente... Gente caindo no chão, se escondendo... Ouvi gritos e um monte de sangue no chão e Gabi... Minha Gabi...
- Tudo bem querida. Eu vim o mais rápido que pude. Você não está só. Disse Sueli abraçando a irmã. As duas choram juntas, tentando consolar uma a outra.

Com muita dor no coração, ela repara na jovem desacordada em cima da cama. Tinha marcas no rosto, uma faixa na cabeça por causa da operação. A bala perdida entrou no crânio e os médicos conseguiram retira-la. O laudo médico não dava muita esperança. Os olhos da mãe estavam fixos no céu e os lábios pediam um milagre.
- É uma dor insuportável. Falou entre as muitas lágrimas.
- Pode haver seqüelas. A irmã tenta conscientizar a mãe da moça.

Mirian não quer aceitar aquela situação. Não devia ser assim. Não podia! O Deus que servia era o Médico dos médicos. Ela precisava se agarrar a sua fé no Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. As duas irmãs oram juntas, pedem ao Todo Poderoso, ao Jeová Rafa que envie a sua cura.

De repente, em meio a tanta dor, surge um louvor. As duas cantam, apertando as mãos. A melodia ultrapassa as paredes do quarto e voa até os céus.

Elas se despedem e Sueli vai embora deixando a irmã e a sobrinha.
- Vamos continuar orando.

Os dias se arrastam naquela ala de hospital, destinado a doenças cujos pacientes estão num quadro irreversível. Mirian resignada, respira fundo e numa lentidão espontânea procura colocar algumas coisas em ordem.

O anoitecer era sinônimo de solidão.

Ela senta numa poltrona e fica olhando o corpo da filha, imóvel sobre a cama. Vencida pelo cansaço, adormece, mesmo que por alguns minutos. Acorda em sobressaltos, assustada, olha ao redor, mas tudo está do mesmo jeito como antes. Ela fecha os olhos e suplica para não dormir, o corpo não obedece.

- Mãe! Ouve muito longe, como aqueles pesadelos que atormentam. A voz insiste: Mãe!

Os olhos se abrem, o livro sagrado pesa nas mãos e cai no colo, despertando-a. Ela agarra-o com força para não cair ao chão.

O corpo estava fraco pelo tempo que não se alimentava direito, o braço dormente, a mente ainda longe procura entender o que estava acontecendo. A moça está se mexendo, a voz estava fraca, mas insistia em chamar pela mãe.
- Filha! Mirian se levanta devagar ainda pensando que estava sonhando. Chega perto da cama e vê a filha de olhos abertos. Filha! Grita em desespero deixando o corpo cair sobre ela. As lágrimas molham a roupa branca e o rosto de Gabi.
- Mãe, estou com sede. Fala devagar.

A mulher esta nervosa demais, ela corre até a porta e chama pela enfermeira de plantão.
- Minha filha! Venha ver!

A moça de jaleco branco andar rápido pelo corredor imaginando que a paciente estava passando mal. Ela entra no quarto e se surpreende ao ver que o quadro clínico da paciente mudou. Ela chega mais perto, observa os equipamentos, lê o prontuário e diz que vai chamar o medido.
- O que aconteceu? Pergunta o doutor seguindo a jovem pelo corredor iluminado.
- Um milagre! Um milagre!

Gabi estava de volta a vida, sem seqüelas, sem maiores complicações. Mirian abraça a filha e ora baixinho agradecendo a Deus pela vitória. O médico entra no quarto e vê a jovem, fala com ela e constata:
- Senhora, é um milagre! A mulher sorri.
- Meu Deus é um Deus de milagres! Testemunha diante de todos.

De Marion Vaz

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