terça-feira, 9 de abril de 2019

Violência Urbana

Carro fuzilado pelo Exército em Guadalupe, Rio — Foto: Fábio Teixeira/AP


Parece mesmo que estamos fadados às desgraças. Por mais que eu tente colorir o mundo em que vivemos, sou obrigada a tomar partido dos "pobres e inocentes" e tenho que dar voz a quem foi silenciado pela dor da tragédia. 

Não é por acaso que o nosso maravilhoso Rio de Janeiro tem sido alvo dos noticiários. Somos o Estado das injustiças, da falta de proteção, da ignorância, dos rios que transbordam e inundam nossas casas, hospitais e avenidas. Somos o paraíso das praias cinzentas e do céu avermelhado ao por do sol de tanto chorar. Não. Definitivamente, o Rio de Janeiro não continua lindo. Não depois do que aconteceu ontem.

E não é novidade alguma que a violência urbana nos assusta diariamente. Somos impelidos a nos refugiar dentro dos próprios lares, limitando nossa área de lazer em poucos quilômetros se quisermos continuar vivos. Fechados em apartamentos com pequenas brechas na parede que chamamos de janelas, vemos a vida passar, o sol se por, os dias viram noites quando fechamos as cortinas. Nosso contato com a humanidade em clicks em redes sociais curtindo a euforia dos amigos e parentes, porque sair na rua pode ser o fim da nossa existência.

E foi exatamente o que aconteceu ontem quando um senhor, músico, levava a família para um chá de bebê, que teve seu carro cercado por dois tanques de guerras e cerca de dez soldados em plena avenida Brasil. No interior do veículo cinco adultos e uma criança vivenciaram um dos ataques mais absurdos que se possa imaginar. 80 tiros foram disparados contra os civis sem qualquer outro tipo de abordagem. 

Não queridos leitores, não era uma cena do próximo filme Duro de Matar 6 com Bruce Willis - Era o exército brasileiro cercando um veículo civil com dois tanques de guerra disparando cerca de 80 tiros, mesmo sobre o protesto das pessoas avisando que se tratava de um pai de família e morador da área.

Interessante que parte da família conseguiu sair do carro (provavelmente no momento em que os disparos foram interrompidos para troca de cartuchos) e foram vistos pelos homens fardados, que voltaram a atirar no homem indefeso preso pelo cinto de segurança no banco do motorista, que no caso morreu na hora. Depois, os soldados brasileiros fugiram do local sem prestar socorro as vítimas.

80 tiros a queima roupa - Eu chamo isso de chacina.

Interessante que a primeira preocupação foi negar o acontecido - Não é verdade! A segunda desculpa para o fato, porque já estava no YouTube e nas redes sociais e não tinha como mesclar a situação por causa da quantidade de testemunhas da chacina foi: Legítima defesa! É uma nova ordem vigente: Atira e diz que foi em legítima defesa! A terceira desculpa é a de sempre: Estamos apurando os fatos. Faça-me o favor! 80 tiros!?? 

Minha simplória opinião é que já ter o carro cercado por dois tanques de guerras em via pública é altamente perigoso, ser vítima da violência urbana feita por soldados é algo monstruoso. O pior é saber que se eles estavam mesmo perseguindo algum criminoso, o carinha fugiu ou passou a léguas de distância dali. 

Em resumo: Um pai de família foi morto, pessoas estão traumatizadas pelos resto da vida e já que a quarta desculpa é "tudo indica que o veículo foi confundido com os dos criminosos" resta perguntar QUANTO de indenização o ESTADO vai pagar para estas vítimas?? 



Marion Vaz