quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Um homem cansado


Uma viagem através daquela região que separava a Judeia da Galileia não era de fato confortante, mesmo para um viajante de trinta anos de idade. Quando observamos Jesus sentado próximo a um poço, perto da cidade de Sicar, entendemos que ele não estava apenas faminto, visto que seus discípulos tinham ido comprar comida, mas também podemos afirmar que estivesse muito cansado.

Samaria - uma cidade fundada por Onri ficava num monte comprado por dois talentos de prata (1 Rs 16.24). Era habitada por uma mistura de gentes desde que as Tribos do Norte foram levadas ao cativeiro (2 Rs 17.24). Esses colonizadores mantiveram a crença em seus deuses e costumes diferentes dos judeus. Segundo os registros bíblicos houve diversas mortes até que o rei da Assíria autorizou a ida de sacerdotes para que ensinassem o povo a adorar a Deus e assim aplacar a ira do Senhor (vs 27). No entanto, o povo cultivava também a adoração aos seus próprios deuses, imagens de escultura (vs 40- 41).

Na época de Neemias, sacerdotes de Jerusalém chegaram a Samaria e  foram bem recebidos. Na época de Jesus, a cidade mantinha uma independência financeira e religiosa. Interpretavam a vontade de Deus, adorando-o no seu próprio templo e ensinando seus costumes às gerações futuras. A rivalidade entre judeus e samaritanos prevalecia e o desprezo por parte dos judeus chegava ao ponto deles “não se comunicarem com os samaritanos”, ou seja, não havia comunhão entre os dois povos.

O próprio Jesus em um de seus discursos recomendou aos seus discípulos que não entrassem nas cidades dos samaritanos (Mt 10.5), mas que buscassem primeiro as ovelhas perdidas da casa de Israel. Certamente isso evitaria contendas sobre religiões. Mas daquela vez, “era-lhe necessário passar por Samaria” (Jo 4.4).

Essa necessidade pode ser interpretada de duas maneiras: do ponto de vista espiritual ou territorial. Jesus sabia que encontraria ali, uma alma sedenta. Por outro lado, o caminho mais curto para a Galiléia passava pela província de Samaria, embora muitos judeus preferissem usar outra via de acesso, atravessando o Jordão.

Eu quero chamar sua atenção para uma das “chaves” do evangelismo que Jesus nos apresenta: é tão importante falar a uma multidão, quanto falar a uma pessoa somente. Em muitos casos, essa segunda opção podia produzir tanto ou maior resultado, dependendo apenas da receptividade do ouvinte.

Lá estava Jesus, sentado junto ao poço aguardando à chegada da mulher samaritana. O episódio registrado por João dá-se por volta da hora sexta. Um homem cansado, com sede, inicia uma conversa pedindo um pouco de água.

Quantas vezes fugimos de nossa responsabilidade e perdemos oportunidades preciosas com a desculpa de estarmos demasiadamente cansados? Quem ainda não vivenciou uma situação como esta: estamos voltando do trabalho, visivelmente cansado. Entramos numa condução, escolhemos um lugar junto à janela e simplesmente fechamos os olhos durante toda viagem! Interessante não é? Às vezes nem nos damos conta de quem ou quantas pessoas sentaram ao nosso lado durante o trajeto.

E no supermercado? Alguém já se imaginou falando de Jesus naquela imensa fila do caixa depois de transitar com aquele carrinho pelos corredores lotado de gente? Estamos preocupados se a lista de compras está completa. E naquele tumulto na hora do embarque da barca? Impossível! Depois de um dia inteiro de trabalho? Não! Definitivamente eu realmente estou muito cansado!

Eu poderia citar muitos outros exemplos que ocupam o nosso dia a dia e com certeza o amado leitor se incluiria em algum deles. O certo é que o cansaço tem dominado a vida de muita gente. Ele é culpado pelo nosso mau desempenho nas tarefas da igreja, ele impede que alguém vá ao evangelismo numa tarde de domingo. Alguns crentes já chegam tão cansados aos cultos que não se dispõe a dar glória a Deus.          

Imagine caminhar quilômetros por um território atravessando montanhas, vales, contornando esse ou aquele monte? Passando por cidades e vilarejos ou longas distâncias despovoadas, sob sol quente, apenas para conversar uma pessoa? Agora pare um pouco e pense nas facilidades do século vinte e um? Você ainda está cansado?

Então se prepare para uma abordagem diferente. Neste texto bíblico Jesus nos mostra com seu exemplo, a urgência de se falar a respeito do reino de Deus e da salvação aos pecadores.

Imagine que a longa caminhada de Jesus tenha chegado ao fim. Os pés empoeirados, a garganta seca, fome... Finalmente ele pode parar um pouco e descansar assentado numa pedra junto a um poço. De imediato ele manda os discípulos a cidade comprar comida e ele fica só. Talvez quisesse realmente ficar sozinho, afinal, como falam aqueles discípulos! Talvez ele quisesse um tempo a sós com o Pai! De repente, surge uma mulher, ele não podia perder aquela oportunidade e colocar a culpa no cansaço.


Marion Vaz

Texto extraído do livro Párabola do Semeador de Marion Vaz


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